Elementos Críticos para a Indústria, Defesa e a Nova Geopolítica dos Recursos Naturais
As chamadas terras raras, ou elementos terras raras (Rare Earth Elements – REEs), compreendem um grupo de 17 elementos químicos, incluindo o escândio, o ítrio e os 15 lantanoides. Embora não sejam verdadeiramente raros em termos de ocorrência geológica, estes elementos se distribuem de forma dispersa na crosta terrestre, raramente formando depósitos economicamente exploráveis em altas concentrações.
A importância das terras raras reside, sobretudo, em suas propriedades físico-químicas únicas, como elevado momento magnético, alta condutividade elétrica e características ópticas específicas, que as tornam insubstituíveis em inúmeras aplicações tecnológicas. Entre seus principais usos destacam-se:
No contexto geopolítico e econômico, as terras raras assumem caráter estratégico, pois são insumos críticos para setores industriais de ponta, além de fundamentais para a transição energética e para a economia verde, dada sua presença em tecnologias de baixo carbono.
A distribuição global de reservas e produção de terras raras é altamente concentrada. A China detém a supremacia nesse mercado, sendo responsável por aproximadamente 60 a 70% da produção mundial, além de possuir vastas reservas, destacadamente na região de Bayan Obo, na Mongólia Interior. Outros países com reservas relevantes incluem Brasil, Vietnã, Rússia, Índia, Austrália e Estados Unidos. O Brasil, especificamente, figura entre os países com maiores reservas potenciais, porém ainda apresenta participação modesta no mercado global devido a desafios tecnológicos, ambientais e regulatórios.
A cadeia produtiva das terras raras apresenta elevada complexidade, envolvendo processos de extração, separação e purificação que exigem alto investimento em tecnologia e cuidados ambientais rigorosos, dada a presença de elementos radioativos associados em algumas jazidas. Por este motivo, o domínio tecnológico da cadeia de valor confere poder econômico e político significativo às nações que controlam não apenas as reservas, mas também o processamento e a comercialização desses elementos.
Dessa forma, o tema das terras raras extrapola o âmbito estritamente mineral ou econômico, situando-se no cerne das discussões sobre segurança nacional, sustentabilidade ambiental, soberania tecnológica e disputas geopolíticas globais. O desafio para países como o Brasil é conciliar a exploração econômica dessas riquezas com a preservação ambiental e a manutenção da soberania sobre recursos estratégicos, em um cenário de crescente demanda global.
Terras Raras: Produtos Estratégicos, Empresas Envolvidas e Geopolítica no Cenário Tecnológico Global
Os elementos terras raras (Rare Earth Elements – REEs) constituem insumos fundamentais para setores tecnológicos e industriais estratégicos, exercendo influência crescente sobre a economia global e as relações geopolíticas. O grupo é composto por 17 elementos químicos, cujas propriedades magnéticas, ópticas e eletrônicas únicas os tornam indispensáveis em produtos de alta tecnologia e em sistemas críticos para a infraestrutura moderna.
Produtos e Tecnologias Atuais
Atualmente, os principais produtos que dependem das terras raras incluem:
Perspectivas Futuras e Novas Tecnologias
No horizonte tecnológico próximo (2025-2035), a demanda por terras raras tende a crescer de maneira exponencial devido a transformações estruturais na economia global, especialmente nos seguintes setores:
Geopolítica Mundial Envolvida
O mercado de terras raras é altamente geopolítico. A China domina cerca de 60 a 70% da produção mundial e controla etapas fundamentais da cadeia produtiva, sobretudo o processamento e a separação dos elementos. Essa concentração gera riscos significativos, pois países que dependem de REEs para indústrias estratégicas se tornam vulneráveis a restrições comerciais, flutuações de preços e tensões diplomáticas.
Estados Unidos e Europa: Desde 2018, aumentaram drasticamente políticas de segurança nacional para reduzir a dependência da China, promovendo incentivos à mineração doméstica, acordos com parceiros estratégicos (como Austrália, Brasil, Canadá) e investimentos em tecnologias de reciclagem e reaproveitamento de REEs.
Brasil: Desperta crescente interesse internacional por possuir uma das maiores reservas de terras raras do mundo, especialmente em regiões como Goiás, Minas Gerais, Bahia e Amazonas. Empresas e fundos americanos já participam de empreendimentos brasileiros, como o projeto Serra Verde em Goiás, financiado parcialmente por capital dos EUA, cujo foco é fornecer Neodímio e Praseodímio.
China:Além de ser produtora, investe em aquisições e parcerias internacionais para garantir acesso global a depósitos de terras raras, consolidando sua posição como potência tecnológica e econômica.
Outros players estratégicos: Países como Austrália, Vietnã, Rússia e Índia buscam fortalecer sua presença na cadeia global, tanto para suprir demandas internas quanto para atender ao mercado internacional.
Nesse contexto, o Brasil surge como um ator estratégico, capaz de diversificar a oferta global, reduzir pressões geopolíticas e se inserir em cadeias de suprimento altamente lucrativas e tecnologicamente avançadas. Contudo, tal potencial está condicionado a desafios importantes, como avanços tecnológicos no processamento de REEs, segurança ambiental e definições claras no marco regulatório, incluindo as discussões em curso sobre o licenciamento ambiental.
As terras raras estão no epicentro da economia do século XXI, unindo tecnologia, sustentabilidade e geopolítica. O domínio sobre esses elementos significa poder econômico, tecnológico e estratégico, impactando diretamente setores essenciais para a transição energética, a inovação digital e a segurança nacional. Nesse cenário, o Brasil possui condições ímpares de se tornar um fornecedor relevante, devendo, contudo, equilibrar interesses econômicos, ambientais e de soberania nacional frente ao complexo tabuleiro geopolítico global.
Investimentos Americanos no Setor de Terras Raras e Minerais Estratégicos no Brasil: Panorama Atual e Perspectivas
As terras raras, apesar do nome, não são escassas na crosta terrestre, mas estão raramente concentradas em depósitos economicamente viáveis. Por suas propriedades físico-químicas únicas — como magnetismo, luminescência e alta condutividade elétrica — tornaram-se minerais estratégicos para tecnologias modernas, incluindo veículos elétricos, turbinas eólicas, eletrônicos, equipamentos médicos e sistemas de defesa.Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado como um país de grande potencial no setor, despertando o interesse de investidores estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos, que buscam diversificar suas fontes de abastecimento diante da alta dependência global em relação à China, principal produtora mundial de terras raras.
1. Serra Verde (Goiás): Maior Projeto em Operação no Brasil
O projeto Serra Verde, localizado em Minaçu, no estado de Goiás, é atualmente o maior empreendimento em operação no Brasil dedicado exclusivamente à produção de terras raras, com foco em Neodímio e Praseodímio, elementos essenciais na fabricação de ímãs permanentes utilizados em motores de veículos elétricos e turbinas eólicas.
2. CBMM (Araxá-MG): Nióbio e Terras Raras
A CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), sediada em Araxá, Minas Gerais, é reconhecida mundialmente como a maior produtora de nióbio. Entretanto, a empresa também investe na extração de terras raras presentes nos resíduos gerados pelo processamento do nióbio.
Parcerias com empresas americanas: Diversas empresas e fundos de investimento dos Estados Unidos possuem acordos tecnológicos e joint ventures com a CBMM, principalmente no desenvolvimento de:
Perspectiva: Apesar do foco principal ser o nióbio, as terras raras associadas representam um potencial significativo de produção adicional. Empresas americanas demonstram grande interesse, pois a CBMM dispõe de tecnologia avançada e infraestrutura industrial que pode ser rapidamente adaptada para aumentar a produção.
3. Interesse Governamental Americano: USGS e Departamento de Energia
Além de empresas privadas, o governo dos Estados Unidos, por meio do U.S. Geological Survey (USGS) e do Department of Energy (DOE), tem acompanhado de perto o potencial brasileiro no setor de terras raras. Embora não invistam diretamente em operações mineradoras, há cooperação técnica e diplomática ativa, com objetivos como:
Essas iniciativas reforçam o interesse estratégico americano em diversificar suas fontes de abastecimento e reduzir riscos geopolíticos associados à concentração de produção na China.
4. Empresas Menores e Fundos Americanos
Além dos grandes players, há também presença de empresas juniores de mineração dos EUA, especializadas em prospecção e exploração inicial de depósitos minerais. Essas empresas, embora menores em porte, desempenham papel crucial ao:
Em geral, essas companhias mantêm discrição sobre suas áreas de atuação, por questões estratégicas e comerciais.
5. Interesse Futuro nas Cadeias de Suprimentos Limpas
Empresas americanas líderes em tecnologia, como General Motors, Tesla e Apple, estão particularmente interessadas em diversificar o fornecimento de terras raras fora da China. O Brasil aparece como uma opção atraente devido a:
Já existem memorandos de entendimento entre associações de mineração brasileiras e entidades americanas, visando garantir fornecimento futuro de terras raras para atender às necessidades da indústria tecnológica e da transição energética global.